terça-feira, 30 de junho de 2009
Última prosa de junho
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Retratos de São Pedro
Acordar
Recém acordada, desço com o sol subindo pro largo de São Pedro. A primeira coisa que vejo, infelizmente, foi um corpo estirado no chão da Africanos e uma mulher desesperada do lado; escuto os comentários do motorista da van (filosofia, como diz minha mãe) e rezo calada por aquelas pessoas. Desço e caminho prudentemente para também não ser atropelada, nem assaltada, a câmera obviamente não levaria sozinha.
A igreja
Subo a escadaria do lado de um miolo que se arrasta ajoelhado. Todas as muitas câmeras o fotografavam, era tudo muito fotografável, aliás. Ontem, quando ia para a Praia Grande, vi de longe o padre celebrar missa dentro da capela. Hoje era outro cenário: miolos, senhoras, crianças, cazumbas pediam a benção pro santo que pousava para as fotos dentro do seu barquinho. Os velhos tinham esparadrapos nos dedos de espancar as costas de suas mãos. A “esbórnia” convivendo com o corpus Christi, talvez. Um homem vomitava no poste com o amigo do lado. Vários conhecidos virados e alguns que, como eu, tinham optado por ir só pela manhã.
Café
Encontro com Den e tomo um café com ela. Descemos para subir de novo. Entre dois sotaques, sinto dois ritmos bem diferentes se misturarem em mim: o frenesi da zabumba e a maresia da matraca. Estávamos bem no meio, na interseção. Às vezes me concentrava mais em um, depois mais no outro, mas fui seduzida pelas zabumbas que estavam na frente e resolvi acompanha-las . Não sei que boi era aquele, pouco importava, estava nele dançando e me certificando que a dança une de fato corpo e espírito.
O velho do chapéu
Um velho surge do nada pra me cumprimentar. Põe seu chapéu na minha cabeça. Ele olha pra Denise que fotografava e tiramos uma foto. Ele pede um pouco da minha água, bebe, e prosseguimos na escada que enquanto mais alta, mais estreitos ficavam os degraus e eu dançava bem menor, mais bem maior eu sentia São Pedro, tanto que quando estava quase na bordinha do seu chapéu, a capela, começa a chover.
A chuva
Todo mundo tenta escapar. Como já estava ali, na igreja praticamente, mais uma vez, senti-me protegida pelo mesmo santo que mandava uma aguinha. A igreja agora estava transtornada e eu não desgrudava da percussão, até sair dali e encontrar quase todo mundo encharcado. Encontro uma velha do terreiro da rua que me diz que completa hoje 68 anos. Será que eu chego lá?
Santa Fé
Santa Fé é o nome mesmo pro boi. Depois de muito observá-lo da calçada, percebi que tinha um paredão de chapéis e fui lá ver o que tinha atrás. Dois bois no chão e mais umas cinco mulheres ajoelhadas. A dona do boi rezava serena. Aquilo parecia uma cúpula de tranquilidade no meio da bagunça, senti uma alegria tão forte que chorei, várias pessoas choravam também. Aí surge do nada uma louca que resolve atravessar a rua bem no meio dos dois bois e claro que começou o bate boca. “Ninguém respeita mais nada!”. Ela nem sabia o que estava acontecendo e respondeu bêbada “Ah, vocês tão tirando foto, né?”. O boi chegou fazendo carinho em mim e eu fiz nele, mas quem eu vejo? Roseana e o pai no couro dele; mas não tinha como ficar com raiva...
Casas e castelos
Na procissão de cazumba tinha tudo, até castelo na cabeça de maranhense. Fiquei pensando como aquilo faz parte do imaginário deles... As casas das cabeças estavam enfeitadas com CD's. Quais músicas estariam ali?
O Mar
O Mar estava lindo hoje, os barquinhos enfeitados, pena que não deu de acompanhar a procissão marítma. Mas é aquela coisa mesmo: navegar é preciso, viver não é preciso.
terça-feira, 23 de junho de 2009
domingo, 21 de junho de 2009
Cynthia Blau me enviou essa poesia que publico aqui:
VIVA OS QUE NÃO SÃO
Em estradas surpreendentes
Como estrelas teleguiadas
Em caminhos monótonos
Calçadas aguadas
campos que de tão verdes são sozinhos
Em um espaço sem saber
O desespero dos que percebem
O que ninguém vê.
Dos que sentem
O que alguém crê
Um pouco cientista
Sem saber
E assim as coisas correm
Param
E são quantos mundos
Desse lado que sabemos?
Oh vida amiga
De parceiros soltos
De uma solidão junto com o mundo
De uma alegria por ser assim
Pessoa que acredita
Nos que não são
E são tantos
Que vivem esperando
No meio da confusão
um menino me viu desnorteada
e só com uma flôr
Acalmou
Conselho,
cobro de você um olhar no horizonte:
Pinte de urucum;
escorregue na favela;
capine o jardim;
caia da construção; seja um que não é,
viva os que não são