domingo, 28 de fevereiro de 2010

é de manhã, olho pras paredes
penso logo
o dia só tem vinte e quatro horas
algumas oito de rede
e o que sobra
talvez nem dê de fazer o que eu queria

ela ali passou alguns anos para desgastar
e eu agora uns segundos para aprender

urgência sábia

o sabiá das laranjeiras canta na janela
você toca nossa música
e eu grito minha clemência

fogo

sunshine

sun
day

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

neste dia nublado
só tuas pétalas clareiam este quarto
este saco cheio
da areia encarnada


incendeia a plantação
dos montes de onde vieste
humana a mão que te semeou
uma, somente
de alguém calado, pensativo
de pele queimada por quem te rege

para ti não existe nuvem
pois tu estás abaixo de todo céu
cantarolando

gira solitário
porque Sóis estamos
sobre a terra
girando

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

a folia da realeza
Marco Antônio, Cesar, Cleópatra
as mais industrializadas princesas
vassalos
alados
fadas e pássaros
na terra, ciscando o chão
brilhos, paetês, de todas as cores
penas de faisão
marinheiros e marinheiras
uma enorme embarcação
sólida
velhas bruxas entusiasmando as crianças
odaliscas e marcaradas salvas
pelo justiceiro Zorro
pierrôs e colombinas
abelhas e joaninhas
voando
nas cores de todos os adereços
que resumem em uma semana
o ano
a vida
de cada um embaixo
ou por cima
da fantasia

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

fauvismo

raios vem lá do Sol para cá
atravessam a atmosfera
as folhas das árvores
caem em nós
pulando o carnaval

euforia
feras
alegria ou
desespero

sumos de sorrisos
contaminando o aterro
a praia
a baía
o movimento dos corpos
fantasiados
do que fomos
e do que seremos

adiante!
aterro do flamengo, carnaval 2010. foto revelada e escaneada em um repartição pública qualquer.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

procuro uma casa
a minha está muito longe
e por isso
talvez nem seja mais
minha

espero que consiga
limpar o que há
espero que eu siga
abrindo suas janelas coloridas
mas que nada morra de calor

nenhuma planta
chega de horror

uma casa com jardim
nem que seja um cantinho
lá está, me esperando
nascendo

uma casa
e meu caminho

sábado, 13 de fevereiro de 2010

pra que achar
que em breve
será diferente do agora

muda-se a hora
mas o mundo segue
e se um dia as águas deixarem de correr
é porque já é o colapso

lapsos de memória

a borboleta azul
circunda o mesmo lugar na cachoeira
desde sua saída do casulo

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

se me vejo submersa numa realidade tão intensa ao ponto de parecer sufocante tomo cuidado para não me afogar

domingo, 7 de fevereiro de 2010

acordo cozinhando
o Sol impiedoso entra sorridente
pregando a mesma peça
de sempre

há milhões de anos

e eu que
por aqui
estou só
de passagem

desço a Siqueira Campos
pra mergulhar
no Oceano que tudo une
e nos faz um grão de pó

Sol, sal, suor

várias mãos me entregam um clamor
e uma delas
tremendo o Parkinson
me aponta a minha disfunção motora
e minha fragilidade

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

parece idiota
envelhecemos todos os dias
e num belo instante
nos vemos feios

porque o tempo passou

flagrante