segunda-feira, 29 de junho de 2009

Retratos de São Pedro


Acordar


Recém acordada, desço com o sol subindo pro largo de São Pedro. A primeira coisa que vejo, infelizmente, foi um corpo estirado no chão da Africanos e uma mulher desesperada do lado; escuto os comentários do motorista da van (filosofia, como diz minha mãe) e rezo calada por aquelas pessoas. Desço e caminho prudentemente para também não ser atropelada, nem assaltada, a câmera obviamente não levaria sozinha.



A igreja


Subo a escadaria do lado de um miolo que se arrasta ajoelhado. Todas as muitas câmeras o fotografavam, era tudo muito fotografável, aliás. Ontem, quando ia para a Praia Grande, vi de longe o padre celebrar missa dentro da capela. Hoje era outro cenário: miolos, senhoras, crianças, cazumbas pediam a benção pro santo que pousava para as fotos dentro do seu barquinho. Os velhos tinham esparadrapos nos dedos de espancar as costas de suas mãos. A “esbórnia” convivendo com o corpus Christi, talvez. Um homem vomitava no poste com o amigo do lado. Vários conhecidos virados e alguns que, como eu, tinham optado por ir só pela manhã.


Café


Encontro com Den e tomo um café com ela. Descemos para subir de novo. Entre dois sotaques, sinto dois ritmos bem diferentes se misturarem em mim: o frenesi da zabumba e a maresia da matraca. Estávamos bem no meio, na interseção. Às vezes me concentrava mais em um, depois mais no outro, mas fui seduzida pelas zabumbas que estavam na frente e resolvi acompanha-las . Não sei que boi era aquele, pouco importava, estava nele dançando e me certificando que a dança une de fato corpo e espírito.


O velho do chapéu


Um velho surge do nada pra me cumprimentar. Põe seu chapéu na minha cabeça. Ele olha pra Denise que fotografava e tiramos uma foto. Ele pede um pouco da minha água, bebe, e prosseguimos na escada que enquanto mais alta, mais estreitos ficavam os degraus e eu dançava bem menor, mais bem maior eu sentia São Pedro, tanto que quando estava quase na bordinha do seu chapéu, a capela, começa a chover.



A chuva


Todo mundo tenta escapar. Como já estava ali, na igreja praticamente, mais uma vez, senti-me protegida pelo mesmo santo que mandava uma aguinha. A igreja agora estava transtornada e eu não desgrudava da percussão, até sair dali e encontrar quase todo mundo encharcado. Encontro uma velha do terreiro da rua que me diz que completa hoje 68 anos. Será que eu chego lá?


Santa Fé


Santa Fé é o nome mesmo pro boi. Depois de muito observá-lo da calçada, percebi que tinha um paredão de chapéis e fui lá ver o que tinha atrás. Dois bois no chão e mais umas cinco mulheres ajoelhadas. A dona do boi rezava serena. Aquilo parecia uma cúpula de tranquilidade no meio da bagunça, senti uma alegria tão forte que chorei, várias pessoas choravam também. Aí surge do nada uma louca que resolve atravessar a rua bem no meio dos dois bois e claro que começou o bate boca. “Ninguém respeita mais nada!”. Ela nem sabia o que estava acontecendo e respondeu bêbada “Ah, vocês tão tirando foto, né?”. O boi chegou fazendo carinho em mim e eu fiz nele, mas quem eu vejo? Roseana e o pai no couro dele; mas não tinha como ficar com raiva...


Casas e castelos


Na procissão de cazumba tinha tudo, até castelo na cabeça de maranhense. Fiquei pensando como aquilo faz parte do imaginário deles... As casas das cabeças estavam enfeitadas com CD's. Quais músicas estariam ali?


O Mar


O Mar estava lindo hoje, os barquinhos enfeitados, pena que não deu de acompanhar a procissão marítma. Mas é aquela coisa mesmo: navegar é preciso, viver não é preciso.


Um comentário:

  1. ler essas palavras foi meu melhor passeio pelos festejos juninos este ano. sem ressacas, vendo o amanhecer no meio da multidão, as idéias as passagens, e tudo o mais que reforça todos os tempos no momento este

    ResponderExcluir